terça-feira, 23 de agosto de 2011


Xará de ídolo do Fla, Zico britânico vive o lado 'nada brilhante' do futebol

Nascido em 1981, Ryan Zico-Black nunca teve chance em time profissional, joga na 9ª Divisão inglesa e lançou biografia com bandeira do Brasil na capa
No ano de 1981, pouco antes de Zico levantar o caneco do Mundial Interclubes pelo Flamengo, nascia Ryan Zico-Black, na pequena Guernsey, uma cidade localizada nas Ilhas Channel, no Canal da Mancha, entre o Reino Unido e a França. O homônimo de um dos mais populares atletas brasileiros desde cedo já tinha a missão de se tornar jogador de futebol. Pelo menos era o que esperava seu pai, que o batizou em homenagem ao ídolo rubro-negro. Sem o  mesmo êxito do Galinho de Quintino na carreira, o xará joga atualmente na Nona Divisão do futebol inglês e já escreveu até  uma autobiografia. Detalhe: com a bandeira do Brasil dentro do nome "Zico".

Morecambe FC, Northwich Victoria, Glenavon, Lancaster City, Barrow, Kettering Town, Barber Bridge, Sunshine Cross, Morwell Pegasus, San Fulgencio e Guernsey FC. Essa é a numerosa lista dos times pelos quais Zico-Black, de 30 anos de idade, passou. Apesar do currículo extenso, ele nunca defendeu um clube profissional. As dificuldades o motivaram a escrever a autobiografia “Zico: an autobiography of a non-league footballer” ("Zico: a autobiografia de um jogador sem liga"), quando tinha 26.
- A bandeira brasileira está lá porque sempre amei assistir e torcer pelo Brasil na Copa do Mundo. Além disso, com o nome Zico, sinto que o Brasil está perto de mim. Meu sonho é visitar o país e assistir a um jogo, ver os principais lugares e conhecer de perto a cultura. Acho que tomar sol na Praia de Copacabana também não seria ruim (risos). Meu jogador favorito é Ronaldo (Fenômeno) e também gosto do Ronaldinho (Gaúcho), que continua jogando. Gosto de ver o futebol do Gilberto Silva também, é um grande jogador para um time, tem um ótimo passe e postura de capitão

Fã do futebol brasileiro, Zico-Black revelou que sempre desejou ser jogador e contou seu sonho: conhecer o atleta que inspirou seu nome, o ex-camisa 10 do Flamengo e da Seleção.
- Costumava ver meu pai jogar peladas de fim de semana e me chamava atenção. Eu sabia, desde cedo, que queria ser profissional. Meu nome veio do Zico. Vi muitos vídeos dele e do futebol brasileiro. Quando era pequeno, meu pai falava que eu seria melhor que os brasileiros. Impossível (risos). Eu adoraria encontrá-lo. Acompanhei toda sua carreira, até como técnico. Eu o perguntaria sobre estilos de treinamento e pegaria dicas.
Com o livro, Zico-Black disse que pretendia mostrar o lado “menos brilhante” do esporte. No site de vendas "eBay", é possível adquirir a obra por U$S 11,71 (R$ 18,82), além do pagamento do frete. As críticas caracterizam o livro como “fácil de ler e completamente honesto”. Uma delas, inclusive, afirma: “A história de Ryan devia motivar a todos nós e nos lembrar que todas as nossas conquistas são, 95%, por conta da dedicação, e 5%, da inspiração”.
- Estava na Espanha, em alguns testes em diversos clubes, tentando um contrato, quando me senti na necessidade de sentar e escrever. Comecei falando das experiências, da aventura de tentar virar profissional e atingir o melhor nível. Fiz alguns capítulos e vi que daria um livro. Já li várias autobiografias de estrelas e pensei que essa seria diferente, de um jogador que não conseguiu chegar tão longe.
O homônimo do Galinho de Quintino defende atualmente o Guernsey FC, da "Combined Counties Football League", o equivalente à Nona Divisão do futebol inglês. O clube tem como presidente Matt Le Tissier, ex-jogador e ídolo do Southampton, também nascido nas Ilhas Channel. Le Tissier se notabilizou por se tornar o segundo maior artilheiro da história do Southampton, esnobando os interesses de Tottenham e Chelsea, e ganhando o apelido de “Le God”, que significa “O Deus”.
- Começamos no último ponto da pirâmide do futebol inglês. Precisamos voar para jogar fora de casa e os outros clubes também. Nosso estádio tem capacidade para cinco mil pessoas. O presidente é Le Tissier, um grande ex-jogador. Recentemente, trabalhei como técnico e fui licenciado pela Uefa. Gostaria de trabalhar como técnico de novo. Fora do futebol, trabalho na Norman Piette, uma loja de construção que fica aqui - contou.
Ryan Zico-Black acredita que a inconsistência tenha feito com que ele não alcançasse o sucesso no futebol. O atleta vê diferenças substanciais nos estilos de vida dos jogadores da Premier League e nos que atuam no esporte semi profissional, já que não se tem segurança.
- É o lado sem glamour do jogo. São contratos curtos nos quais você pode, a qualquer momento, ser mandado embora. Nenhuma segurança real. Quando estava no Morecambe FC, estava indo bem. Fomos para a terceira rodada da FA Cup, que nos deu alguma notoriedade. Ainda joguei pela Irlanda do Norte sub-21. Conversei com Manchester City, Blackburn Rovers e outros, mas não foi para frente. Acho que a inconsistência foi a grande razão para eu não chegar longe. A diferença entre jogadores médios, bons e craques, é que os últimos são consistentes, quase não tem jogos ruins. Os médios podem ir bem às vezes, mas se jogassem com grandes times toda a semana, não o fariam.
O jogador contou uma das histórias curiosas presentes no livro, quando ele atuava pelo Lancaster City: um presidente asiático que chegou ao clube, injetou milhões, prometeu altos salários e uma infra estrutura invejável. Mas no fim das contas, não cumpriu nada.
- Todos os jogadores poderiam largar os trabalhos de fora do futebol e ficaríamos 24 horas com isso. Eles estavam fazendo um estádio e prometeram vaga na Premier em, no máximo, dez anos! O mesmo cara foi visto fazendo um jornal local há uma semana atrás (risos). Foi uma decepção, mas eu, infelizmente, já tinha assinado. Meu grande sonho agora é ajudar o Guernsey - concluiu o sonhador Ryan Zico-Black.
No Brasil, Zico lembra Zicomengo e agradece nova homenagem
- Só conhecia o Zicomengo, que é um torcedor do Rio Grande do Norte. Fiquei muito feliz em saber disso, é uma grande homenagem - disse.
Zico contou ainda que sempre foi muito respeitado na Inglaterra. Em 1982, pouco depois do nascimento de Ryan Zico-Black, chegou a ser eleito pela revista "World Soccer" o melhor jogador do mundo.
- Os ingleses sempre gostaram de mim, acho que o torcedor inglês gosta do meu estilo de jogo. Quando era técnico do Japão, enfrentei a seleção inglesa e recebi muitos abraços dos jogadores. Tenho até uma camisa autografada por John Terry com a dedicatória "Meu herói" - lembrou.

Fonte: globoesporte.com