quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Atletas para a história: 22 colorados partem para conquista do planeta

Com grupo experiente e vencedor, mas abalado por desfalques, Inter embarca nesta quarta-feira para Abu Dhabi, palco do Mundial

Por Alexandre Alliatti Porto Alegre

22 jogadores Internacional MuldialOs 22 representantes: problema com Rodrigo diminuiu a lista (Foto: Montagem sobre foto da VIPCOMM)
Oscar, 19 anos, típico magrelo veloz, parte aos dribles para cima de Índio, 35, dez títulos pelo clube, figura quase mitológica dos anos dourados do Inter. Na dividida, a bola sobra com Bolívar, o capitão chamado de general. De um lado, passa voando Nei, careca espevitado, o lateral operário, que não gosta de aparecer, não quer chamar a atenção. Quase careca, mas com um corte moicano dividindo a cabeça, quem recebe é Guiñazu, um dos jogadores mais malucos da história do Inter, figura imune à dor, sujeito alheio ao cansaço. Na frente dele, estão as tranças de Tinga, colorado desde o ventre da mãe dele, D’Alessandro, já nascido com uma camisa 10, Rafael Sobis, atacante que se alimenta de finais. Wilson Matias orientará o passe, Kleber fará o cruzamento, Alecsandro completará para o gol, Renan baterá palmas do outro lado. São 22 personagens, 11 delas titulares, que partem ao meio-dia desta quarta-feira rumo a Abu Dhabi. A missão é transformar o Inter em um clube bicampeão do mundo.
Experiência e qualidade marcam elenco colorado
(Foto: VIPCOMM)
Destinos tão diferentes, trajetórias tão opostas, currículos tão distintos: 22 homens separados por muita coisa e unidos pelo desejo de mandar no mundo do futebol. O Inter vai para o Mundial com Pato Abbondanzieri, 38 anos, dono de mais títulos do que muito clube grande jamais sonhará ter. E também com Eduardo Sasha, 18, recém-saído do berço futebolístico. Com um elenco experiente (Bolívar, Guiñazu, Tinga, Alecsandro), campeão (Abbondanzieri, Índio, Kleber, D’Alessandro, Rafael Sobis) e munido de ares de renovação (Oscar e Leandro Damião), o Colorado dá sinais de que pode encarar de frente quem quer que seja – mesmo que seja um xará, que seja italiano, que tenha Sneijder, Eto’o e Milito. Mas também há problemas.
São os desfalques. O primeiro foi Ilan, ainda antes da definição da lista final. O segundo foi Glaydson, na segunda-feira, com lesão muscular. O terceiro foi Rodrigo, por problemas legais, com inscrição negada pela Fifa. Deixou de ser o elenco que Celso Roth queria. Pior: a disputa do Mundial deve ser com os 22 jogadores que viajam nesta quarta, já que a presença de Sorondo, escolhido para substituir Rodrigo, não deve se confirmar. O regulamento não prevê trocas por questões burocráticas.
Com ou sem desfalques, Celso Roth comandará no Mundial um grupo que mistura atletas muito identificados com o clube com outros que tentam firmar uma trajetória mais sólida com a camisa vermelha. Confira, jogador por jogador, quem é quem no Mundial de Clubes.
1. Renan
O Inter passou a fazer parte da rotina diária de Renan aos nove anos, quando ele vestiu luvas e passou a treinar nas categorias de base do clube. Sempre foi um goleiro dos mais promissores, com passagens sólidas pelas seleções de base. Reserva de Clemer no título mundial de 2006, agora ele pode ser campeão como titular, após passagem pela Espanha. Não tem a confiança total da torcida, mas passou por período forte de treinos, uma ação que pode ser decisiva no Mundial.
2. Bolívar
Bolívar anda fazendo Tales, o filho dele, dormir horas e horas a fio. Quer que o menino sonhe com o título mundial, repetindo a premonição do primeiro jogo da final da Libertadores, quando o garoto recebeu, durante o sono, o aviso de que o pai dele marcaria um gol. Pois aconteceu, e Bolívar, o capitão, o general, ergueu a taça continental. Maior líder do elenco, ele pode repetir o que fez Fernandão em 2006 e ser eternizado também com o Mundial.
Bolívar com taça LibertadoresBolívar ergue taça da Libertadores. Sonho agora é maior (Foto: Vipcomm)
3. Índio
Índio cortava cana, trabalhava da manhã à noite espiando de canto de olho uma marmita que não tinha nada além de um ovo frito – e gelado. Com 20 anos, virou jogador de futebol. Com 35, pode ser bicampeão do mundo. É um dos maiores zagueiros que o Inter já teve, com dez títulos pelo clube, com mais gols do que Figueroa. Foi o único atleta do atual elenco a não deixar o clube desde o Mundial de 2006.
4. Nei
Nei quer repetir Ceará: no título, não na fama por barrar craques. Ele diz que se Bolívar for o melhor em campo, se D’Alessandro fizer gols, se Oscar arrebentar e se ele ficar na dele, sem problemas. O negócio é levantar a taça. Lateral discreto, mas competente, o jogador buscado pelo Inter no Atlético-PR vai ao Mundial com a certeza de ter conquistado solidez ao longo do ano.
5. Guiñazu
Guiñazu, com um calor de 40 graus, costuma treinar com uma capa de chuva para suar mais. Guiñazu, depois de treinos em dois turnos, chega em casa e corre na esteira. Guiñazu, nas férias, descansa durante um dia e corre nos outros 29. Guiñazu, certa feita, jogou uma partida inteira com um buraco do tamanho de uma moeda no joelho. Guiñazu, com o braço quebrado, quase deu um carrinho em um médico que o impedia de voltar a campo por causa da lesão. Pablo Horácio Guiñazu, El Cholo, argentino adorado pela torcida, pode marcar época definitivamente com o título mundial.
6. Kleber
Talvez dono do melhor cruzamento do futebol brasileiro, Kleber é uma referência técnica do time do Inter. Os colegas olham para ele e se sentem confiantes em acioná-lo. Também carrega a experiência em campo. Ganhou tudo que é título, incluindo o Mundial, em 2000, com o Corinthians.
7. Tinga
Paulo César Tinga nasceu colorado. E foi criado pelo Grêmio. Saído de uma infância que levou seus amigos à morte ou à cadeia, o jogador de coração vermelho agradece ao clube azul por tudo que fez por ele. Mas se sente em casa mesmo é no Beira-Rio. É um símbolo do coloradismo, um dos jogadores mais identificados com a torcida. Já tem duas Libertadores, e agora busca o Mundial.
8. Giuliano
Se o jogo estiver complicado e Giuliano começar a aquecer do lado de fora, já vai ter colorado gritando gol. Assim foi na Libertadores: raramente titular, sempre decisivo. O talismã vermelho fez seis gols na caminha do título continental do Inter. Vai ao Mundial com número de titular, mas como reserva de luxo.
Talismã da Libertadores, Giuliano será banco no Mundial (Foto: Rodholfo Burher / Agência Estado)
 
9. Alecsandro
Tem mais de 50 gols pelo Inter, mas segue dividindo uma torcida que parece mais propensa a reclamar dele do que a dar incentivo. Pouco político nas palavras, ganhou fama de presunçoso. Mas faz gols, e tem a confiança dos colegas justamente por causa disso. O jogador tem a mais absoluta certeza de que viverá o melhor momento da carreira dele no Mundial de Clubes.
10. D’Alessandro
É o grande craque do elenco vermelho, dono de uma perna canhota rara, proprietário de um drible quase impossível de marcar, o La Boba. Quase todas as jogadas do Inter passam pelos pés de Andrés Nicolas D’Alessandro. Argentino do tipo irritado, que costuma arranjar confusão em campo, ele vive um momento único no Inter: é amado pela torcida logo depois de ser uma das referências do título da Libertadores.
11. Rafael Sobis
Não é por acaso que Rafael Sobis tem três gols em finais de Libertadores pelo Inter. Típico jogador que cresce em decisão, ele foi preparado por Celso Roth para estourar no Mundial. Tenta conquistar o título que perdeu em 2006 por se transferir para o Betis. Da Espanha, soluçou de tanto chorar ao ver o Inter campeão.
12. Derley
É o reserva imediato para os dois volantes. Jogador alto, às vezes exageradamente ansioso, tem a marcação forte como arma. Derley passou pelo Náutico para retornar ao Inter com mais moral e ganhar uma vaga em Abu Dhabi.
14. Ronaldo Alves
Ronaldo Alves foi discreto, comeu pelas beiradas e desbancou Sorondo depois de o uruguaio passar por cirurgia de hérnia inguinal. O zagueiro não teria grandes chances de ser aproveitado em Abu Dhabi se Rodrigo também estivesse na lista. Com o corte do colega, virou reserva imediato.
15. Eduardo Sasha
O garoto recém-saído das categorias de base do Inter estava em casa, se preparando mentalmente para passar por uma cirurgia de correção óssea no calcanhar, quando foi avisado de que jogaria o Mundial. Aos 18 anos, é ele o substituto de Glaydson, afastado do Mundial por lesão muscular.
16. Juan
O jovem zagueiro vai ao Mundial mais como reserva de Kleber na lateral esquerda do que como opção para a zaga. Carrega o número 16, que pertenceu em 2006 a Adriano Gabiru, o autor do gol do título mundial.
17. Andrezinho
É um reserva com estrela de titular. Já fez gols decisivos pelo Inter e agora espera repetir a dose no Mundial. O sonho do meio-campista é ir a campo em uma eventual decisão contra o Inter de Milão, bater uma falta contra Julio Cesar, amigo dele nos tempos de Flamengo, e ser o dono do gol de novo título mundial do Colorado.
18. Oscar
Maior promessa do elenco vermelho, Oscar vai ao Mundial com jeito de Alexandre Pato – não na característica de jogo, mas na trajetória. Ele cresceu na hora certa, cavou uma vaga no elenco e virou um dos reservas mais importantes. Tem encantado nos treinamentos.
Oscar vai ao Mundial como grande promessa colorada (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
19. Leandro Damião
Muitos colorados gostariam que Leandro Damião fosse o titular do Inter. Mas ele estará no Mundial como suplente, figurando no banco como alternativa forte para a necessidade de o time intensificar as ações ofensivas. Com crescimento meteórico no clube, trocou o time B por gol em final de Libertadores em questão de meses.
20. Wilson Matias
Talvez seja o titular mais discreto do Inter. Volante de boa passagem pelo México, o jogador tenta driblar a desconfiança e provar que pode ser um bom titular do Inter ao lado de Guiñazu no sistema de contenção do meio-campo.
21. Daniel
Daniel ganhou uma vaga nos últimos dias, muito por causa da incerteza do clube com a situação de Glaydson, que acabou mesmo cortado. Nunca foi um lateral de grande brilho, mas vem melhorando nos treinos.
22. Abbondanzieri
Se colocasse todas as faixas que já recebeu, não conseguiria se mexer. Ídolo histórico do Boca Juniors, Pato Abbondanzieri é um dos jogadores mais queridos pelos colegas. Titular em parte da conquista da Libertadores, irá ao Mundial como reserva de Renan e deve se aposentar logo depois.
23. Lauro
Lauro teve grandes momentos no Inter, especialmente na conquista da Sul-Americana, mas algumas falhas custaram caro para ele. O jogador virou reserva de Abbondanzieri e ficou ainda mais distante da condição de titular com a chegada de Renan. Correu o risco de não ir ao Mundial. Deve deixar o clube em 2011.