TABU CÊ TÁ Í PRA SER
QUEBRADO
Gol, título e festa com Davi no colo: Elias em uma noite 'para resto da
vida'
Decisivo contra Cruzeiro, Goiás e Atlético-PR, volante celebra final
feliz de uma Copa do Brasil com história ligada a drama vivido com filho de
menos de dois anos
Decidir para o Flamengo na Copa do Brasil não era novidade para Elias.
Foi assim contra o Cruzeiro, nas oitavas de final, em partida que o elenco é
unânime em afirmar como determinante para o título, e também na semifinal
diante do Goiás. Um gol na decisão diante do Atlético-PR, no entanto, seria
diferente. Não somente pela possibilidade de ser herói do título, mas,
principalmente, pela trajetória percorrida até ali. Na arquibancada, ainda sem
entender muita coisa, estava Davi, com menos de dois anos, personagem crucial
em uma história que uniu clube, jogador e torcedor nesta competição.
Foi por uma atuação na Copa do Brasil que Elias teve revelado seu drama
pessoal com o filho. Figura destoante em uma noite de 4 a 0 sobre o Botafogo, o
volante entrou em campo sob o drama da pneumonia que tinha levado o primogênito
para o hospital. A classificação rendeu homenagens do elenco, que ganharam eco
e tomaram conta de todo o Maracanã na semifinal, diante do Goiás.
Com Davi já em casa para fase final de recuperação, Elias entrou em
campo ciente de que precisava voltar a jogar um bom futebol, e recebeu um
incentivo especial: todo Maracanã gritou o nome do filho. O resultado? Com um
gol e uma assistência, repetiu a dose de heroísmo que teve diante do Cruzeiro.
Faltava, porém, o ato final. Faltava o título. Faltava também o olhar e o
sorriso de Davi.
Elias com seu filho na comemoração após a conquista do tri da Copa do
Brasil
Agora, não falta mais nada. Com o filho na plateia, Elias abriu o
caminho da vitória por 2 a 0, aos 41 minutos do segundo tempo, e concluiu como
campeão uma história que o próprio define como inesquecível.
- Vou levar para o resto da minha vida. É muito especial para mim, é
muito importante. É difícil de falar. A emoção é muito grande, estou muito
feliz e esse palco é maravilhoso. Toda criança sonha em um dia jogar uma decisão
aqui (no Maracanã). Pude jogar e ser campeão com a maior torcida do mundo.
Então, não tenho palavras.
A consagração veio acompanhada de um pedido: “Fica, Elias”. Emprestado
pelo Sporting até o fim de 2013, o volante tem conversas adiantadas por um novo
contrato, mas o Flamengo ainda precisa fazer as tratativas com os portugueses.
Ainda no campo do Maracanã, o vice de futebol, Wallim Vasconcellos, garantiu a
permanência. Questionado, o camisa 8 preferiu deixar qualquer declaração mais
conclusiva para depois, mas se mostrou otimista para o que espera o Rubro-Negro
em 2014.
- Agora, é comemorar e depois pensar na próxima temporada. O ano que
vem vai ser maravilhoso para o Flamengo. Depois de um ano muito difícil
financeiramente, a promessa é de melhora. O clube tem tudo para fazer uma
grande equipe, muito forte, e conquistar a Libertadores.
Era difícil projetar chegar a
uma final depois de quatro técnicos
Elias
O ano "difícil
financeiramente", conforme definiu o jogador, fez com que o Flamengo
investisse pouco e montasse para muitos um elenco modesto. Apesar dos 12
reforços contratados, a equipe teimava em não engrenar e teve o ponto de
partida para o tri justamente dos pés da Elias, que aponta o triunfo sobre o
Cruzeiro como determinante para a campanha.
- Era difícil de projetar isso, chegar a uma final depois de quatro
técnicos, mas o grupo sempre acreditou. Sabíamos que se passássemos pelo
Cruzeiro a torcida ia vir junto, apoiar e poderíamos conquistar o título.
Graças a Deus, deu tudo certo.
Campeão da Copa do Brasil e livre do risco de rebaixamento no
Brasileirão, o Flamengo encara o Vitória, domingo, em Salvador, pela 37ª
rodada. Para esta partida, Jayme de Almeida deve escalar somente reservas e são
grandes as chances de boa parte dos titulares terem as férias antecipadas, não
jogando mais em 2013. Entre eles, Elias..
Festa discreta, calma e
confiança: a primeira taça de Jayme pelo Fla
Sereno, treinador ganha disputa com Vagner Mancini à beira do campo,
deixa comemoração para os jogadores e revela: 'Fiquei mais nervoso contra o
Corinthians'
Desacreditado. Assim estava o Flamengo quando Jayme de Almeida foi
chamado para assumir o comando da equipe no meio de setembro. Dias antes, o
técnico Mano Menezes tinha pedido demissão alegando não ter conseguido passar
para o grupo aquilo que pensa sobre futebol. Mas o então auxiliar técnico de 60
anos não fugiu da responsabilidade. Trabalhou em silêncio, fez algumas mudanças
no time, deu a confiança que faltava aos jogadores e transformou o Rubro-Negro
em apenas dois meses. A coroação veio na noite desta quarta-feira com a vitória
por 2 a 0 sobre o Atlético-PR e a conquista do tricampeonato da Copa do Brasil,
o primeiro título pelo Flamengo como treinador do sempre sereno Jayme.
As reações do comandante durante os 90 minutos traduzem bem a sua
personalidade. Tranquilo, poucas vezes se movimentou pela área técnica. Parecia
ter a equipe nas mãos. Em pouco tempo, conseguiu usar seu trabalho e sua
história no Flamengo para conquistar o grupo, repetindo trajetórias vitoriosas
de nomes como Carlinhos e Andrade. E foi justamente para os jogadores que ele
deixou os holofotes do título. Após o apito final, Jayme se viu rapidamente
cercado por repórteres. Depois das entrevistas, foi a campo e deu alguns
abraços. Mas só se aproximou dos jogadores na hora das fotos, e ainda assim a
pedido dos próprios.
- Já falei isso mais de uma vez e repito: quem decide são os jogadores.
E não é demagogia. Comemorei, abracei, foi um momento emocionante, lógico. Mas
deixei a festa para os jogadores. Eles são mais jovens, dão volta olímpica,
carregam a taça. Eu não tenho mais idade para isso (risos) - resumiu o
treinador, que havia sido campeão no Espírito Santo pela Desportiva em 1992.
Tensão? Só contra o Corinthians...
Um jogo muito estudado e com poucas emoções. O retrato da primeira
etapa deu o tom das reações dos treinadores nos primeiros 45 minutos de jogo.
Se nas arquibancadas a festa era intensa, nas áreas técnicas a tranquilidade,
pelo menos aparentemente, imperava. Jayme, por exemplo, escolheu sua posição no
lado direito, cruzou os braços e assim ficou do primeiro ao último apito.
Algumas vezes abaixava a cabeça, olhava o relógio e nada mais.
Vágner Mancini não fugiu à regra. Tirando uma ou outra movimentação,
algumas conversas com o bandeirinha e poucas orientações, o treinador
atleticano tirou o primeiro tempo para observar. Atitude incisiva só para
reclamar com o juiz e com o quarto árbitro que uma das bolas do jogo estava
murcha. O suficiente para chamar atenção e ser xingado pela torcida do
Flamengo.
O panorama seguiu o mesmo na etapa final. Jayme se posicionou no mesmo
lugar, à direita da área técnica. E foi dali que ele deu a instrução para
Paulinho não jogar a bola para lateral quando Paulo Baier ficou caído no campo
de ataque por volta dos 20 minutos. O técnico sabia que era cera e, de fato,
não demorou muito para o atleticano se levantar.
Fiquei mais tenso contra o Corinthians no domingo do que na final.
Sentia que, se não fizéssemos um resultado bom no Brasileiro, a pressão seria
enorme. Lógico que contra o Atlético-PR era uma decisão. Nunca é tudo tranquilo.
Mas não fiquei preocupado durante o jogo. A preparação foi boa.
Jayme de Almeida
Vendo seu time apático em campo, Mancini resolveu mudar na busca por
seu segundo título da Copa do Brasil - o primeiro foi com o Paulista de
Jundiaí, em 2005. Colocou Dellatorre, Ciro e Cléberson no jogo. Jayme respondeu
com Diogo Silva, González e João Paulo. Mas as emoções estavam mesmo guardadas
para os minutos finais. Mesmo abusando do chuveirinho, o Atlético-PR pouco
ameaçou Felipe. E viu sua falta de ofensividade ser castigada. Depois de perder
boas chances, o Flamengo matou o jogo com Elias e Hernane. Comemoração
exagerada de Jayme? Nada disso. No máximo algumas palmas e as mãos erguidas ao
alto. Tensão mesmo ele diz ter sentido no último domingo.
- Vou ser bem sincero: fiquei mais tenso contra o Corinthians no
domingo do que na final. Sentia que, se não fizéssemos um resultado bom no
Brasileiro, a pressão seria enorme. Lógico que contra o Atlético-PR era uma
decisão. Nunca é tudo tranquilo. Mas não fiquei preocupado durante o jogo. A
preparação foi boa, e o resultado de domingo deu muito moral para o time.
Estava confiante de que iríamos fazer o nosso trabalho bem feito. Se iríamos
vencer, era outra questão... - frisou o técnico.
Sensação no Campeonato Brasileiro, o Atlético-PR viu o sonho do título
inédito da Copa do Brasil ser adiado. Parou em Paulinho, em Elias, em Hernane.
Parou no Flamengo, time responsável por eliminar os favoritos da competição
como Cruzeiro e Botafogo. Acima de tudo, parou no jeito simples de Jayme, o
sereno treinador que já conquistou a Nação Rubro-Negra.
CORREÇÃO: diferentemente do que informava a versão original da matéria,
este não foi o primeiro título de Jayme de Almeida como técnico. Ele foi
campeão capixaba pela Desportiva, em 1992.